Erros frequentes na concepção e construção de moradias

Erros frequentes na concepção e construção de moradias

Os erros frequentes na concepção e construção de moradias derivam de deficiente elaboração de projetos (ou ausência da fase de projeto de execução), ausência de coordenação efetiva, a negligência e ausência de acompanhamento técnico durante a construção de moradias unifamiliares, fatores que têm um reflexo direto no aparecimento de várias anomalias e patologias construtivas, algo que, muitas vezes acontece mesmo num futuro muito próximo à finalização da construção.

Este artigo procura apresentar as patologias e defeitos de construção mais frequentes em habitações unifamiliares, frequentemente observados, apontando ainda causas e possíveis consequências para que Donos de obra que se encontrem nesta posição possam estar à alerta e exigir qualidade na sua construção de moradia.

Uma das principais causas da falta de qualidade na construção de moradias reside no fato de que a maioria dos proprietários priorizar o preço em detrimento da qualidade, focando-se mais no custo inicial do produto construído e menos no custo global associado ao período de vida útil da habitação. Este aspeto resulta numa degradação rápida das moradias unifamiliares, e na necessidade de investimentos frequentes em obras de reparação, conservação, reforço e manutenção.

Além disso, as próprias empresas construtoras também enfrentam esses custos, uma vez que operam num mercado caracterizado por preços baixos e margens muito comprimidas, onde a sustentabilidade do negócio interfere diretamente com escolhas de menor qualidade construtiva. Isto desincentiva o cumprimento das boas práticas de construção, e até mesmo o investimento e a inovação tecnológica, premiando a redução de custos.

A baixa qualificação da mão-de-obra e a sua escassez no mercado atual, e falta de qualificação de muitos dos empresários no setor da construção contribui para a falta de qualidade nas construções e dificulta a introdução de novas tecnologias e a modernização do setor, uma vez que o mercado funciona muito pelo mote “preço mais baixo em detrimento da qualidade”.

De modo geral, grande parte das deficiências nas construções têm origem na fase de elaboração do projeto. Em termos de distribuição dos custos totais de reparação, esses estudos indicam que as causas são cerca de 40% de origem nos projetos e coordenação, 40% na má execução em obra, 10% nos materiais utilizados (de baixa qualidade ou inapropriados) e 10% na má utilização final ou desleixo no uso.

Desta repartição de causas importa então compreender que a “poupança” na adjudicação de nos projetos de arquitetura e especialidades baratos não é a melhor opção. Projetos completos e devidamente coordenados são o motor para uma obra sem erros. E por projetos completos, entenda-se que as várias fases de projetos de arquitetura são imprescindíveis para o seu desenvolvimento e para a capacidade de resolver situações evitáveis em obra.

Destacamos as anomalias mais relevantes em termos de custos de reabilitação e implicações no desempenho das habitações. Os problemas encontrados vão desde deficiências nos projetos de arquitetura e projetos de especialidades até o uso de materiais de baixa qualidade e a falta de atenção aos níveis freáticos.

Demonstram a falta de qualidade nos projetos e na execução das obras, além do uso de materiais inadequados. A falta de pormenorização nos projetos e a falta de acompanhamento adequado por parte dos projetistas, técnicos e fiscais também contribuem para essas anomalias na construção.

Erros frequentes na concepção e construção de moradia

ANOMALIAS E ERROS FREQUENTES NA CONCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DE MORADIAS

Todos sabemos que a aquisição de uma habitação envolve um esforço monetário muito elevado e na jornada de construir moradia, ao comprar o terreno e depois tratar da construção, é um investimento avultado para a maioria das famílias. Desta decisão pede-se que o resultado seja satisfatório e a construção responda aos níveis de conforto, segurança e durabilidade elevados.

Dos fatores que contribuem para a falta de qualidade na conceção e construção de moradias incluem-se:

- fator de decisão de empreitada pelo “preço mais baixo de imediato”, envolvendo assim mão-de-obra não qualificada e materiais e componentes de baixa qualidade;

- a falta de projetos de execução devidamente detalhados para a construção em si e não apenas os detalhes-tipo e soluções-padrão de fornecedores;

- o acompanhamento deficiente ou mesmo inexistente durante a construção, quer pelos autores projetistas, quer pela fiscalização e direção de obra;

- a falta de cumprimento dos projetos em obra, motivadas por constantes alterações em obra, a pedido do Dono de obra ou por sugestão do empreiteiro.

Felizmente, nos últimos anos, os Donos de obra mais informados têm exigido maior qualidade na construção e estão atentos às anomalias que surgem nos primeiros anos de uso, para acionar garantias e reparações. Os custos de reparação e melhoria das edificações são altos e preocupam os utilizadores ao longo do ciclo de vida das construções, deixamos em baixo alguns alertas.

Detalhe de projeto de fachada com cobertura Erros frequentes na concepção e construção de moradias

NÃO CUMPRIMENTO DE PROJETOS E MÁS PRÁTICAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Nestes casos são frequentes, por exemplo, o não cumprimento de projeto de estabilidade com a não colocação de armadura suficiente nos elementos estruturais, betões mal vibrados, a não execução de vigas de apoio
das lajes ou mesmo ausência de lintéis nos vãos, o recobrimento insuficiente das armaduras, a remoção de impermeabilizações e remates em zonas críticas como cobertura, inclinações de escoamento de águas pluviais e de esgotos deficientes, espessuras de betonilhas inferiores/superiores às previstas, a troca de materiais especificados por outros com desempenhos inferiores ou desadequadas, entre outras situações.

A desvalorização e desrespeito pelos dimensionamentos, geometria das formas e traçados dos vários projetos, acabando por não cumprir as dimensões mínimas regulamentares dos projetos de arquitetura e restantes projetos; ignorar ainda, indicações regulamentares de peças escritas dos vários projetos, geram situações complexas refazer, com implicações significativas em custos e tempo que são perfeitamente evitáveis em qualquer obra.

Detalhe de pavimento em planta Erros frequentes na concepção e construção de moradias

AUSÊNCIA DE PORMENORES DE PROJETO

Para pormenores de construção de elementos mais secundários é muito frequente haver uma omissão de caracterização desses elementos, como, por exemplo, escadas, muros de vedação, arranjos exteriores, guardas, camadas de impermeabilização, entre outros.

Este é um dos erros frequentes na concepção e construção de moradias mais generalizado, uma vez que o raciocínio de fazer "poupar" nas fases de projeto, pela desvalorização geral destes elementos, é enorme, e desta forma a não definição técnica de como fazer seguro e cumprir a legislação passa completamente ao lado. Os projetistas esmagados pelos honorários baixos, praticam a "economia de peças de projeto" deixando um projeto incompleto e focando-se apenas na edificação principal à escala de licenciamento (muitas vezes apenas à escala 1/100).

 

MATERIAIS DEFICIENTES APLICADOS EM OBRA

Muitos construtores para competir com preços baixos recorrem a materiais de 2 ou 3ª escolha, o que implica situações de má construção, por exemplo, paredes ladrilhadas totalmente empenadas e pavimentos desnivelados muito suscetíveis a fraturar, ou mesmo até, peças com defeitos aplicadas, não havendo um controlo de qualidade.

Outras situações frequentes são as alterações de materiais especificados alterados, como em espessuras de isolamento inferiores, ou camadas de reboco e argamassas que não seguem as recomendações dos fabricantes.

AUSÊNCIA DE RECURSO A MATERIAIS CERTIFICADOS E DE ENSAIOS EM OBRA

O recurso a materiais de construção não certificados e de baixa qualidade, implica que a durabilidade da construção será menor, reduzindo assim o seu ciclo de vida útil, tornando-se mais dispendiosa ao longo do tempo.

Frequentemente se verifica nas obras, a aplicação com inertes inadequados e com doseamento incorreto, tijolos de má qualidade e fraturados e incorreta execução das alvenarias, ausência de isolamentos, o que irá gerar pontes térmicas não previstas e evitáveis na edificação.

 

AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM OBRA E DIREÇÃO TÉCNICA E DE FISCALIZAÇÃO EM OBRA

A ausência de projetistas, de fiscalização e direção de obra durante as várias fases de obra são uma receita para o insucesso de uma construção. A clareza de um trabalho de equipa, de flexibilidade de execução, mas sem faltar ao rigor técnico e que responda à segurança e qualidade construtiva são os pontos-chave na concepção e construção de moradias ou qualquer outro tipo de construção.

Estes fatores contribuem para uma má qualidade da construção, não satisfazem de todo ou diminuem o cumprimento de requisitos de estabilidade, resistência mecânica, segurança, estética, material e até regulamentar.

A repetição de erros de concepção e construção de moradias, bem como na seleção inapropriada de materiais, levam ao aparecimento de inúmeras
anomalias e futuras patologias nas edificações e que com um planeamento e processo conjunto de equipa de projeto integrada podem promover habitações robustas e duráveis.

Está assim nas mãos do Dono de Obra a definição da qualidade construtiva que pretende para a sua moradia, pelo que deve desde a fase inicial do processo identificar o que pretende ver materializado nos projetos, quais os seus objetivos e qual o nível de risco que pretende assumir com esta empreitada. O Dono de obra como o principal interessado e decisor é quem promove o tipo de processo construtivo, quer na fase de conceção de projetos como na fase de execução de obra.

Fotos: Eder Pozo unsplash.com e spacelovers

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